
Tu, ontem na dança que cansa, voavas c'o
as faces em rosas formosas de vivo, lascivo
carmim; na valsa tão falsa, corrias, fugias,
ardente, contente, tranquila, serena, sem
pena de mim!
Quem dera que sintas as dores de amores que
louco senti! Quem dera que sintas.
-Não negues, não mintas... Eu vi!...
Valsavas.
-Teus belos cabelos, já soltos, revoltos,
saltavam, voavam, brincavam no colo que é meu;
e os olhos escuros tão puros, os olhos
perjuros volvias; tremias; sorrias pra outro,
não eu! Quem dera que sintas!...
-Não negues, não mintas... - Eu vi!...
Meu Deus! Eras bela donzela, valsando, sorrindo,
fugindo, qual silfo risonho, que sonho nos vem!
Mas esse sorriso tão liso, que tinhas nos
lábios de rosa, formosa, tu davas, mandavas
a quem?

Quem dera que sintas as dores de amores que
louco senti! Quem dera que sintas!...
-Não negues, não mintas... - Eu vi!...
Calado, sozinho, mesquinho, em zelos ardendo,
Eu vi-te correndo tão falsa na valsa veloz!
Eu triste vi tudo! Mas mudo não tive nas
galas das salas, nem falas, nem cantos, nem
prantos, nem voz!
Quem dera que sintas as dores de amores que
louco senti! Quem dera que sintas!...
Na valsa cansaste: ficaste prostrada,
turbada! Pensavas, cismavas, e estavas tão
pálida, então; qual pálida rosa mimosa no
vale do vento cruento batida, caída sem
vida no chão! Quem dera que sintas as dores
de amores que louco senti! Quem dera que
sintas! - Não negues, não mintas...
-Eu vi!...
"Casimiro de Abreu"