
Em março de 2005 o professor Hugo Monteiro Ferreira, de Cabo
de Santo Agostinho (PE), iniciou um trabalho de aplicação
prática para a sua tese de doutorado. A idéia era trabalhar
o currículo da quarta série de uma escola pública por meio
de uma abordagem transdisciplinar que usasse a literatura
como suporte. A metodologia envolveu três frases: entrevistas
com a professora e com os alunos da turma na qual iria atuar
como professor; encontros temáticos com os alunos e aulas de
leitura de literatura com abordagem transdisciplinar no
ensino do conteúdo curricular da escola.
A primeira etapa tinha como objetivo conhecer a professora e
saber o que os alunos pensavam sobre temas relacionados à
produção do conhecimento na escola e como a relacionavam
com a leitura literária. A base do trabalho se deu com o
conto Tchau, de Lygia Bojunga.
No decorrer do trabalho, outros textos literários, como
Profundamente, de Manuel Bandeira, e Soneto do amigo, de
Vinícius de Moraes, foram usados, pois propiciavam a
articulação de estudos nos campos de português, geografia,
história, matemática, religião e artes. Hugo observa que
o mediador da aprendizagem deve possuir um conhecimento
generalista.
"Não precisa ser um conhecedor de tudo, mas saber promover
as interações necessárias no processo de orientar a
aprendizagem dos alunos", explica. De setembro a dezembro,
Ferreira realizou 13 encontros, de 4 horas cada, com os
alunos. O trabalho foi aplicado numa escola disciplinar,
o que prova que é possível utilizar essa metodologia
sem alterar todo o currículo do município.
"A professora da sala me cedeu o espaço e acompanhou todo
o processo. Não abri mão dos conteúdos de língua portuguesa,
história, ciências, geografia e matemática que estavam
previstos. Eles aprenderam tudo isso de um modo conectado.
O resultado foi um envolvimento muito significativo por
parte dos alunos com a aprendizagem. O texto literário,
por sua natureza complexa, pode ser usado como instrumento
transdisciplinar, mas não pode perder a sua natureza
estética, tornando-se apenas um instrumento didático.
Precisa entrar em sala de aula com toda a sua gama
de contradição", defende.
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